quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O SURTO NÃO ME SURTA


Era quase três da tarde. O cheiro do café redentor e da gordura que impregna nas roupas nos sefs-services da vida pontualmente ao meio-dia estavam por toda a parte. E a minha mão começou a suar frio.
Eu olhei para tela do computador e as letrinhas, filhas-da-puta, começaram a dançar uma milonga. Ok, hora de fumar um cigarro.

Levantei da cadeira, desci e fui chupar meu pirulitinho de câncer, como dizia Rust James, irmão do Motoqueiro, em Rumble Fish, livro da Susan E. Hinton.

Cinco minutos angustiantes e a fumaça, que normalmente desce tranqüila pela via-resPIRATÓRIA, se alojou em algum lugar entre minha blusa e minha consciência.

Assim que pisei no quarto andar, tudo escureceu.


- Sheyla, minhas mãos estão dormentes.
- O que vc tá sentindo?
- Minha circulação parou.
- É claro que a sua circulação não parou.
- Parou sim. Não to conseguindo sentir minhas pernas. Nem meus braços. Nem minha boca e nem minha língua. Não to conseguindo falar. Eu vu morrer.

Pronto. Depois disso começou o surto. Sensação de morte. E morte com uma boca enorme, cheia de dentes querendo morder minha bunda. Gritos. Gritei com as enfermeiras; elas achavam que eu não tinha nada. CA RA LHO! Eu tava morrendo e elas placidamente me diziam que as coisas estavam bem?!

Remédio na veia. Sensação de melhora. Sheyla andando comigo. Eu, sentada em uma cadeira de rodas:

- A última vez que carreguei alguém na cadeira de rodas, essa pessoa morreu um mês depois
- Obrigada, assim eu fico mais tranqüila.

Realmente, um tanto de tempo antes Sheyla havia enterrado um tio, e o probrezinho houvera de ter passado pela mesma experiência que eu: ser conduzido por alguém tão... tão... tão Sheyla.

Hora de tomar outra medicação. A suadeira recomeçava. Novamente não sentia meus membros. Mais gritos. Sensação de morte amplificada. Morte em mil megatons.

Depois de um tempo, melhorei. Sérgio foi me buscar no hospital. Não queria aparecer em casa daquele jeito, e ele me levou para dar uma volta na casa de amigos. No caminho passei mal. Muito mal. Mas estava resistindo à idéia de ter de voltar para o hospital. Cheguei à casa de Luiza e Tércio ainda com aquela cara de “sim, eu to ficando louca”.

Aos poucos, fui me distraindo... conversando... Até bebi uma taça de vinho. Porque louca eu sempre fui e vinho é vinho; não se dispensa e pronto. Mas meia hora depois... TUDO OUTRA VEZ. A diferença é que eu não tava dentro de um hospital e isso piorou consideravelmente a minha convicção de que eu a morrer.
Gritos. Choro. Calor. Tudo ao mesmo tempo agora.
Dessa vez, Sérgio me acalmou. Me botou dentro do chuveiro, com roupa e tudo. E me fez respirar calmamente. Melhorei sem ter de ir ao hospital. Pelo menos não fui imediatamente. Depois de sair da casa de Luiza e Tércio, resolvemos passar no Pronto Socorro, mas estava tão cheio que desistimos.

No dia seguinte, estava me sentindo melhor, psicologicamente falando. Mas o cansaço físico era imenso. Praticamente não tinha forças para levantar. Uma coisa assustadora que começa mais ou menos assim: ansiedade lá no topo da cabeça, mil pensamentos inconclusivos e medo exorbitante. Daí uma onda imensa de adrenalina invade seu corpitcho e, ao menos que vc dance uma salsa ou corra uns 20 minutos sem parar dentro do seu departamento, essa coisa toda bota seu sistema em colapso. E vc tem uma crise conhecida celebremente como Síndrome do Pânico. Se você ainda não teve: não se preocupe, se tudo continuar como está, logo, logo você terá a sua.
Legenda: Mickey Rourke, no papel de O Motoqueiro, no belo filme de Coppola, Rumble Fish (em português, O Selvagem da motocicleta). Eles não sabem o que fazer, não sabem qual é o papel que têm que desempenhar na sociedade. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

2 comentários:

Mais uma!!! disse...

Caramba!As vezes sinto que estou prestes a algo assim ou parecido com isso.Talvez seja uma espécie de síndrome de domindo a noite,porque sinto uma ansiedade imensa todos os dias mas ela se intensifica na noite de domingo,meu coração fica mais acelerado que o normal,falta o ar,sensação de loucura,vontade de chorar sem parar,cortar os pulsos,matar alguém,sei lá...só sei q é horrível.No final acabo indo dormir a pulso e recomeça tudo e as coisas acabam acalmando.Realmente não sei se é psicológico,biológico ou se é parecido com o que vc teve mas me identifiquei.Como vc procedeu apos isso?Toma remédios?Espero que tenha melhorado,bjos.

LU disse...

que historia e' essa??? quem e' o Sergio???? to entendendo e' naaada!!!