sábado, 2 de janeiro de 2010

MEDO?

Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.

Temer o amor é temer a vida e os que temem a vida já estão meio mortos.



Eu sempre fui medrosa de profissão. Os medos mais absurdos me acompanharam durante toda a minha vida. O primeiro de todos, que eu me lembro com bastante clareza, era desses que vêm de fora para dentro: uma flor.


Eu tinha tanto medo daquela flor que preferia gastar minhas lindas perninhas dando uma volta gigante no quarteirão a ter de passar embaixo daquela árvore. Agora me perguntem: de que raios veio um medo tão forte de uma coisa tão inofensiva? Não sei.
Talvez do mesmo lugar em que saiu meu medo de borboleta. Put a keep a real! Eu morria de medo de borboletas... E esse medo logo cresceu e se transformou em medo de tudo o que voa. Infernal!


Nessa mesma época, apareceu um medo de outro tipo, aquele que é de dentro pra fora: eu comecei a ficar com um medo enorme da minha mãe me esquecer na escola e nunca mais ir me buscar. Quando ia dando o horário da saída, meu coração apertava dentro do peitinho da garota de cinco anos. Escrevendo isso, penso comoo deveria ser hilário para as “tias” observarem as carinhas apreensivas das crianças esperando pelas suas mamas. Mas um dia minha mãe me esqueceu mesmo. Não, na verdade ela não me esqueceu, mas demorou tanto que eu acreditei que nunca mais eu ia vê-la. Daí, as coisas ficaram piores, muito piores. Todos os dias, antes de entrar na escolinha, eu já pensava como seria a hora da saída. O dia inteiro eu ficava com pensamentos mórbidos em relação àquilo tudo. Pensava insistentemente que ia acontecer aquilo novamente. HORRIVEL. À noite, o medo era outro: o de meu pai não chegar em casa. Apavorava só de pensar que alguma coisa poderia acontecer com ele. Enquanto ele não virava a esquina da rua da minha casa, meu coração continuava aflito. Em resumo, eu entrava na escola às 12h e saía às 17h. Cinco horas de medo. Depois, chegava em casa às 17h30 / 18h e esperava meu pai chegar até as 20h. Mais duas horas de medo. Mais resumido ainda: eu morria de medo de tudo.

E eu fui crescendo e meus medos também. Algumas coisas perderam o efeito aterrorizante, mas o tempo e o mundo trataram de colocar outras maiores em seus lugares. Medo de doença, medo de desagradar, medo de machucar, medo de desapontar, medo de inferno, medo da solidão, medo de ficar feia e nunca melhorar a cara de adolescente, medo, medo, medo...

Hoje eu tenho a convicção de que muitos dos medos estiveram / estão relacionados com a culpa, um outro tiro que eu levei no coração quando eu nasci. Mas isso é um assunto muito mais complexo, psicanaliticamente falando.

Mas o problema é que sendo eu uma medrosa acabei tomando raiva de outras pessoas medrosas. Não aquela raiva que faz odiar... Mas uma raiva de querer chacoalhar o sujeito, sabe?

Caralho, a gente só tem UMA VIDA. Uma, porra!!!! Qual é a dificuldade de entender isso? Qual é a parte que a gente não entendeu ainda?
Como diz a canção de um poeta louco aí, “o medo é uma droga pesada”; talvez a mais pesada de todas. E eu tô ficando com um bode de pessoas que se escondem atrás de velhas ideologias e que se prendem a coisas que não existem mais. Eu tô ficando com vontade de sumir, de nunca mais ter de me olhar, de ver a minha imagem refletida, nos olhos de quem tem medo de mudar... Tô ficando puta com quem tem medo de mim; medo de saber que eu posso ser uma coisa boa. É injusto, eu sei. Eu continuo com medo também. Mas é o que eu sinto... é como se eu esperasse que as pessoas fossem mais fortes que eu.... Apesar de que hoje eu sei que coragem não é nunca sentir medo.... coragem é fazer o que precisa ser feito apesar do medo. E eu faço.

Puts, mas que papinho furado, hein? Tá chovendo lá fora... E eu perdi o meu medo da chuva!

Vou encontrar a Lia, a outra Miss Lexotan, criada à minha imagem e semelhança.

Tchau.
Legenda: A primeira foto é do famoso quadro do Munch, conhecido como O grito. Mas na real, o nome verdadeiro dessa obra é O despero, e ela teve uma versão anterior a essa (que eu coloco na segunda foto). Munch viveu cheio de medo, desde criança, como eu. Acho mesmo que o melhor nome para o seu quadro é O desespero. Dizem que a primeira vez que esse quadro foi exposto foi numa exposição intitulada O AMOR. O quadro retrataria uma das fases desse sentimento , que vai desde o encanto inicial até o DESESPERO. Acho que ele entendeu tudo.

2 comentários:

LU disse...

POOOO!!!!!!

Se nao tem mais medo, caia na estrada.... conheca lugares, prove novos sabores, conheca pessoas, escute novos sotaques, novos idiomas e dialetos...
Viva sempre, mas mais do isso, viva intensamente!!!!

Priscilla Arantes disse...

Oi Rita! Adouuuurei o post e citei trechos dele no meu post de hoje. Medo... Quem não tem, né? Mas concordo com o Jayverg e tenho feito exatamente isso... Descobrir o novo e me preencher de cultura. Mas ele me acompanha (o medo)... Enfim... Parabéns pelo post e o blog. Beijos.