segunda-feira, 5 de abril de 2010

É O NIILISMO...!

De seguro,
Posso apenas dizer que havia um muro
E que foi contra ele que arremeti
A vida inteira.
Não, nunca o contornei.
Nunca tentei
Ultrapassá-lo de qualquer maneira.

A honra era lutar
Sem esperança de vencer.
E lutei ferozmente noite e dia,
Apesar de saber
ue quanto mais lutava mais perdia
E mais funda sentia
A dor de me perder.

Miguel Torga.


Sei, lá! Às vezes acho que estou tomando uma estrada sem volta. Um caminho que vai me levar irremediavelmente para a abstração completa das coisas e das pessoas.
Não sei se isso é exatamente ser niilista ou coisa assim, mas é como se as coisas perdessem a importância e fossem sendo apagadas, cor por cor, de uma tela.
É tão estranho... É como se de repente o amarelo não fizesse mais parte, entende? Daí, nos primeiros dias, você sente uma falta do cacete do amarelo... Chora um choro doído porque já não pode ver mais nenhum tom de amarelo naquela cena. Fica mudo, sem latim.
Só que, depois de algum tempo, você - que não podia viver sem o amarelo - se acostuma com um mundo sem esta cor. E tudo bem.
Quer dizer, não é assim uma coisa “tudo bem”, sabe? Você fica mais triste, mais calado... mais “desamarelado”..., mas continua seguindo, porque a vida, as coisas e as pessoas são assim mesmo.
E então, quando vc já começa achar normal um mundo sem amarelo, some o azul. E depois o verde. E agora já não sabe se ainda há vermelho ou violeta...
É mais ou menos assim como eu sinto as coisas desaparecerem... Elas não são retiradas de mim abruptamente... Pelo contrário: elas vão indo, um pouco a cada dia, com o meu consentimento e tudo mais. Mas nunca ficam. Elas se vão mesmo. E pra sempre.

E é por isso que eu estou um pouco assustada. Porque eu sinto que não há volta. Não há retorno algum para as coisas que se perdem, o que me faz achar que invariavelmente eu chegarei no processo de abstração total.
Tudo vai se tornar indiferente para mim. A prova é que antes uma palavra que me provocava o choro e a comoção, hoje não significa nada. Sou capaz de repeti-la cem vezes sem sentir uma cócega de emoção. Prefiro, irremediavelmente o sono, que o embate. Prefiro o silêncio que o confronto. Porque também o confronto já me é indiferente. E dizer se torna a mesma coisa que não dizer. E no fim todas as cores estão desaparecendo, ou, pelo menos, estão desaparecidas. E na tela branca fica tudo muito confuso, e já não dá pra saber o que é céu e o que é chão.
E é por isso que eu me lembrei deste poema do Miguel Torga, que fala da dor profunda de se perder um pouco a cada dia...
No meu processo não há dor profunda. Há vazio profundo... e eu acho muito pior, quer saber. Porque quando vc sente uma dor, inevitavelmente há um movimento de reflexo, que o impede de prosseguir, que o impele do perigo... Mas quando não há dor, choro ou desespero, vc nunca sabe qual vai ser o próximo passo... qual a próxima cor que vai sumir...

Então, se isso não é o começo do fim, me digam o que é!

Um comentário:

Danilo Fernandes disse...

Ritíssima,

achei seu blog perdido no meus favoritos, deve ser de algum dia que vc postou ele no seu orkut. Juro que tô assustado com a perfeição com a qual você descreve sentimentos, sensações, (falta de) emoções... quero te ver quando for pra SP!

Beijos!
Danilo, de Ribeirão-Sampa-França