domingo, 20 de fevereiro de 2011

REABRI! YEAH!

e NADA melhor que um texto sobre drogras psicotrópicas. Ou não.

Cabelo comprido é o véu natural das mulheres. Pro caralho com os véus. E com as mulheres. Hoje é dia de tomar os remedinhos de receita azul. Já sei.Cortei o cabelo já faz um ano, e tem dias que ainda me sinto uma merda por causa dessa porra toda. Mas não é só isso. Nunca foi. Seria muito bom se o meu questionamento existencial se baseasse no tamanho do meu cabelo. Na verdade, o que o meu cabelo tem a ver com isso?Não sei se isso configura algum desvio moral, mas eu adoraria ter começado o dia com um prozac e uma dose de vodka. Uma não, duas.
Em vez disso, um comprimidinho de frontal, aquele tarja preta camarada que acalma, relaxa e te deixa com cara de idiota o restante do dia. Melhor cara de idiota que assassinar alguém. Será mesmo? O fato é que engoli a rodelinha lilás com o rosto posicionado devidamente atrás do meu computador, para que ninguém presenciasse o crime. É bom que ninguém saiba que eu ainda consumo esse tipo de drogas. Ou então é bom que todo mundo finja que não sabe que eu consumo esse tipo de drogas. Por que eu nego.
Ninguém paga a porra das minhas contas (nem eu). Mas a qualquer oscilação de humor, já vêm jogando na sua cara que você tem problema mental. Que é incapaz de conduzir a fucking crazy da sua vida, e que você vai acabar viciada num hospício. Oxalá, tomara que este dia chegue logo! Tenho mesmo pensado que seria muito mais digno para mim acabar sozinha, isolada e louca. Ninguém por perto. Nenhum risco para a espécie humana, que está “feridinha demais” para suportar meus rompantes. Para suportar qualquer coisa que não seja pasteurizada ou que não esteja no script. Seus amigos não querem um louco por perto. Seus pais não querem um louco por perto. Seus amantes também não querem. Embora eu possa apostar que eles sejam a causa primeira da sua loucura. Pode fazer o teste. Fique louca e seja excluída.
Não importa o quanto você esteja confusa e a sua cabeça latejando ainda por causa desse porre chamado juventude. Não importa essa vontade de deitar a cabeça no colo de alguém e falar sobre os poetas e os mortos. Não importa nada. Aliás, você não tem importância nenhuma pra ninguém.
Vontade de dar um tiro na cabeça. Na própria cabeça. Um impeditivo: não poder ver os miolos jorrando sangue e angústia por todo lado. Melhor não.
Outro frontal e essa coisa toda vai para o espaço. Tanta coisa eu queria que fosse para o espaço... Tanta. Eu juro.
Juro que hoje eu tomava uma anfetamina. Tomava várias. Pagaria qualquer coisa pra me livrar desse peso de ser inoperante. Inoperante no trabalho. Inoperante no amor. Inoperante na vida. Pagava, pode apostar.
Eu pagava pra nunca mais ter que sentir esse fim de mundo dentro de mim. Tomava Rivotril, Fluoxetina, Escitalopram, Sertralina. Tomava tudo com uma vodka. E esperaria. Esperaria a sensação de esquecer. De apagar. De sumir de uma vez por todas, que deve ser muito melhor que sumir aos poucos. Muito melhor que ver sua imagem se apagando lentamente daquela retina.
Hoje eu dormiria profundamente pra não ter que mendigar mais uma dose dessa droga pesada que é o amor.


(Texto inpirado no conto de Márcia Denser, do livro TARJA PRETA. Embora qualquer semelhança com a vida real não seja mera coincidência)

Nenhum comentário: